terça-feira, 27 de outubro de 2009

Escrevo ao som de "L'avventura", ouvindo a voz emocionada de Renato Russo quase sussurrar "Não precisa vir/ Se não for pra ficar/pelo menos uma noite/ e três semanas". E toca, e como toca. E eu poderia ficar discorrendo horas sobre essa belíssima imagem, sexualizada e afetiva, mas em um ato heroico resisto à tentação. Recentemente, li a biografia "Renato Russo: O Filho da Revolução" e tive acesso a uma imagem mais humana desse ícone do Rock.

Inegavelmente sensível e inteligente, Renato é descrito como um tímido, que no palco se transforma. Um indivíduo cheio de vontades e de igual espírito empreendedor para concretizar os seus desejos. No entanto, o menino que brincava sozinho de escrever a história de uma banda imaginária que tinha Eric Russell como líder, e que concretizou o maior desejo de sua vida transformando a "Legião Urbana" na primeira maior banda de Rock do Brasil, não conseguiu estabelecer-se numa relação afetiva que lhe fizesse completo. É um fato triste vindo de alguém que tinha tudo para ser muito feliz. Mais triste ainda é pensar que deveria ser muito mais fácil conquistar uma pessoa, do que uma legião de fãs. E impossível, ao menos para a estudante de letras que aqui escreve, não lembrar do tio Drummond e suas "Sem-razões do amor".

"Seu olhar/Não conta mais histórias/Não brota o fruto e nem a flor", a música continua a tocar. Antes de fundar a "Legião Urbana", Renato Russo tocava sozinho suas canções sendo conhecido como "Trovador Solitário”. Suas letras são intensas e vagas, como um registro afetivo de um acontecimento prosaíco. Mas tudo vai ganhando cores, ganhando vida, transformando-se em nossa própria memória afetiva. E afinal, somos nós que fechamos a porta do quarto esperando que aquele alguém, com quem queremos falar por horas e horas e horas, finalmente nos ligue. E cada vez que ouvimos uma de suas músicas, um filme passa em nossa mente, uma história antiga revive, uma ferida se abre, um momento se eterniza.

Voltando ao livro, além do mérito de retratar Renato Russo com a intensidade de um personagem, narrando, inclusive, episódios corriqueiros, íntimos e curiosos de sua vida, a biografia em questão também mostra os primórdios de Brasília, a primeira geração de jovens habitantes daquela cidade artificial, onde tudo é dividido em asas, setores e quadras; Retrata alguns fatos marcantes da ditadura que imperava e sua influência respingada na juventude e nas artes; além de traçar um panorama do surgimento das primeiras bandas de Rock brasileiras.

Reinicio a música mais uma vez, a última...

"Não se pode fechar os olhos/Não se pode olhar pra trás/Sem se aprender alguma coisa pro futuro..."

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Vício estúpido número UM!

Motivos pelos quais Mentex é a síntese de todos os meus vícios estúpidos:

- Quando eu era criança ia até a cantina da escola e consumia o saudável lanche composto por uma caixinha de Mentex, que na época custava R$0,70, e um suco de caju.

- Mentex é tão raro de se achar que quando descubro um lugar que venda, compro logo um estoque de caixinhas amarelas. Nunca se sabe quando as verei de novo...

- Em um surto de abstinência forçada, andei botafogo inteiro e meio(?) Humaitá atrás de um ponto de venda dessa bala maligna. Entrei em todas as padarias, Americanas, lojas de doces e nada...Acabei comprando uma Mentos no caminho para distrair a minha frustração.

- Recentemente, quando já estava quase curada desse vício, entrei numa Americanas e, inacreditávelmente, as tais balinhas estavam por toda parte. Achei então que nunca mais faltaria aquele delicioso gostinho de Menta em minha vida, até que, de um dia para o outro, não havia mais uma caixinha sequer para contar a história. Deus, será que existem outros como eu no mundo?

- Não sei se é jogada de Marketing da empresa distribuidora, mas nunca vi um produto tão difícil de ser achado. Muito mais fácil um nostálgico achar guarda-chuvinhas de chocolate do que um viciado achar as tais caixinhas amarelas. E olha que nunca houve uma propaganda no estilo "Compre, baton...", imagina se houvesse? A sua maior comunidade do Orkut passaria de 493 membros para 1.000 logo após a primeira exibição. E não tenho dúvidas de que cresceria cada vez mais...Afinal, Baton não é nem tão gostoso assim (recalque) e possui uma comunidade com 6.493 membros. Humpf.

- Outro dia, me peguei lendo a sua composição atrás de alguma substância duvidosa que justificasse o meu vício. Afinal, me recuso a acreditar que toda atração que sinto consista apenas nos encantos safados daquela casquinha lisa e branquinha que na boca se transforma em áspero caramelo. "E ainda tende a grudar no dente!", argumento para mim, inutilmente, tentando desencantar a criatura desejada.

- Procurei a história do Mentex no google e...Nada! Nem uma notinha na Wikipédia, nem um site exclusivo essa bala possui! Um absurdo, descaso total! Mas, em contrapartida, tive a confirmação de que ela está presente na memória afetiva de muitas outras pessoas que eram crianças nas décadas de 70, 80 e 90.

- Outra maravilhosa descoberta que essa profunda - e inútil - pesquisa me rendeu foi saber que no site da Americanas é possível comprar um pacote contendo 18 caixas por apenas R$17, 90! E ainda tem a opção de incluir o produto na sua lista de casamento! Se eu me casar um dia, peço sinceras desculpas ao abridor de vinho - objeto que acho indispensável dentro de uma casa feliz - mas no topo da minha lista estará o tal pacote contendo as 18 caixas amarelas.

- Em quantas horas será que um viciado consegue acabar com 18 caixas de Mentex? Será que a ingestão excessiva do produto resulta em graves efeitos colaterais? Vide a bula.

Enfim, Mentex é a síntese de todos os meus vícios estúpidos pela quantidade de considerações inúteis que posso tecer em torno desse ícone do imaginário coletivo. E se alguém achar algum lugar físico que esteja vendendo as tais caixinhas, não esqueça de me informar, please?